terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Contrariando Cecília

Jornal do Brasil - 01/12/2007 - por Álvaro Costa e Silva

A Desiderata, que segundo a coluna Informe Idéias, acaba de ser comprada pela Ediouro, conseguiu os direitos para reedição de crônicas de Cecília Meirelles, publicadas entre 1929 e 1930 em O Jornal. Os textos foram escritos em um momento conturbado da vida da poeta, quando ela vivia uma crise no casamento com o artista Fernando Corrêa Dias - autor do desenho da capa do livro - que, pouco depois, veio a se suicidar. Mas a surpresa está no final da edição, publicada em parceria com a Batel: três textos que Cecília preferia que não fossem republicados - "Roerich", "Taj Mahal" e "Homem grande".

Literatura em vídeo

Um vídeo lindo que não podia deixar de colocar aqui!

Aluzcinação




Literatura para colecionador

O Globo - 01/12/2007 - por Rodrigo Fonseca

Criada em 1995, e hoje integrada por 350 sócios, a Confraria dos Bibliófilos do Brasil é uma espécie de clube para quem encara os livros como fetiche e como obra de arte. O vício dessa turma: imprimir edições de autores brasileiros, a partir de técnicas gráficas e processos de acabamento pouco freqüentes na indústria editorial, incluindo ilustrações feitas por artistas nacionais. A mais recente publicação da Confraria, que ainda tem vagas abertas, é O cobrador e outros contos de Rubem Fonseca, uma edição encadernada, protegida por uma caixa especial com o brasão do confrades. Interessados na confraria podem obter informações pelo e-mail: conbiblibr@yahoo.com.br.

Duas malas de saudades

Os sentimentos que me tomam vem carregados de um peso tácito que me aligeira os pêlos desavisados e desprovidos de entendimento e ânsia de respostas.
Pesam dentro da mala na qual me fiz.
Pesam ao tentar colocar sobre o monte de camisas de Álvaro Campos, seu sorriso largo, seu gemido mudo, seu orgasmo que é meu.
Meu não no sentido de tê-lo eu suscitado em você, mas sim na brevidade do gozo não ejaculado que seu olhar hedonista me traz a pele.
Pesa dentro de mim isso, e aquilo que foge a minha explicação.
Pesa, toma forma, saudade, amor, raiva, desejo, tudo se materializa em mim, ocupando mais espaço que a refeição que fiz na noite passada.
Você me ocupa, toma espaço dentro dessa mala mal arruma que sou, e quando vai, na pressa das mãos que vestem a roupa, na pressa das mãos de quem escreve tchau, na pressa das mãos de quem solta um beijo que nunca chega, você acaba deixando um buraco entre as camisas e os poemas de Pessoa.
Você pesa em mim, como pesa os olhos na noite de vigília, como pesa a voz de quem vai dizer que ama, como pesa o não-espada que crava no meu peito nu quando fica muda.
O que sinto me pesa, me lesa o juízo, tira do que sou o sumo fundamental pra invenção da pólvora.
O amor pesa em mim, como pesa o pavio que você deixou aceso em meu paiol, como pesa o copo de conhaque que me faz leve, como pesa a gilete que corta minha carne frouxa antes da leveza da dor.
E eu me fiz mala, mal arrumada, as vésperas de uma viagem que nunca chega, a espera das mãos que vão me guiar por aí...
Com tudo que vi, com tudo que toquei, com tudo que fui.
Sem arrependimentos vagos, sem lembranças que eu não possa reviver.
Me fiz mala sim, de uma viagem que começa em mim e só tem fim em você.

Douglas Alves

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Daniel Balaban, presidente do FNDE, na CBL

CBL Informa - 29/11/2007

No próximo dia 10/12, das 14h30 às 16h30, o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Daniel Balaban, irá proferir a palestra "Programa de Desenvolvimento da Educação - Novos Rumos da Educação no Brasil". O evento acontece no auditório da Câmara Brasileira do Livro (Rua Cristiano Viana, 91, Pinheiros - SP) e é gratuito. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail escoladolivro@cbl.org.br. Mais informações pelo telefone 11-3069-1300, ramal 129.

2008 será o Ano Nacional Machado de Assis

(Fonte: CBL Informa - 03/12/2007)

Na última quarta-feira, 28 de novembro, foi firmado um termo de cooperação entre o Ministério da Cultura (MinC) e a Academia Brasileira de Letras (ABL) para desenvolverem ações conjuntas para o Ano Nacional Machado de Assis - destinado a celebrar o centenário de morte do autor.

O acordo prevê um prazo de 30 dias para que o Minc e a ABL possam montar uma agenda de comemorações para o próximo ano. Na cerimônia da última quarta, em Brasília, foi adiantada a pretensão da Academia de lançar uma edição popular da obra machadiana. Além disso, várias outras iniciativas estão sendo planejadas para divulgar a riqueza literária da obra de Machado, o primeiro presidente da ABL.

Nessa esteira, podemos esperar seminários, exposições e conferências sobre seu legado; além da publicação de edições comemorativas e coletâneas sobre a vida e obra do "bruxo".

Maiores informações no
site do Minc.

Literatura na telinha (do computador)

(Fonte: CBL Informa - 28/11/2007)


O vasto conteúdo do portal Cronópios ganhou mais um suporte - o televisivo. A TV Cronópios, recentemente inaugurada, disponibiliza vídeos on line aos fãs de literatura. O material consiste em entrevistas com autores em eventos, coberturas de lançamentos de títulos e reportagens com escritores em seus diversos habitats.

A dinamização possibilitada pelo canal de vídeos on line casa com a proposta do portal de mapear e incentivar a literatura contemporânea brasileira. Utilizando a tecnologia Flash Vídeo (a mesma utilizada pelo YouTube), a
TV Cronópios estreou com o programa Bitniks, gravado na FNAC Paulista. O primeiro programa teve como convidado o escritor Marcelino Freire - três programas já estão no ar, e outros três, em fase de produção.

Aos interessados:
http://www.cronopios.com.br/tvcronopios/

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Agenda

Dia 28/11 às 24:00
Mombojo no Studio SP

R$ 15,00



Poesia

Cinema

Música

Dois guardanapos de bar

Um dia veio uma menina e “desinventou” a palavra agora, como se já não houvesse momento presente no que vivo. Meu instante único que deveria começar na palavra agora se finda antes do começo da palavra que sempre se atrasa.
Moça chata, de riso fácil e encantador, comeu todas as certezas que guardei para amanhã, sem certezas e com a cabeça “descontruída”, você me vem, e quando acredito não poder mais gostar de você, de outra forma mais rasgada e despreocupada, você “descomeça” o apreço que a tenho, reinventando outras formas de se sentir um querer totalmente involuntário.
Não sei se a cerveja permite que eu seja claro em minhas explanações, mas não ouso frear esse instinto breve, que busca no condimento único da lembrança do beijo da mulher sonhada, o único alimento pra minha fome infinda.
Você vem sempre, besta como só você sabe o ser, “desinaugurando” alegrias, só pra deixar tudo com a sua cara.
“Resignificando” coisas, inventando outras, criando um mix de alegria e sonho nos sertões do meu entender. Vem sempre como quem não quer nada, pra por virgula onde antes havia exclamação.
Vem sempre sem noção de espaço, me arranca um pedaço, e coloca no lugar uma vontade de não.
Tira de tudo o sentido que dei, me destrona, me faz “desrei” do castelo que construí com areia.
Coloca concreto na palavra saudade, tira o deserto da palavra miragem e faz do real uma utopia além sonho.
Muda a alegria do lugar onde ponho, “desamanhece” meus dias, invade meu sonho, dá fogos de artifício ao meu momento de paz.
Inventa palavra, onde antes só havia silencio, me faz feliz como dicionário nenhum faz.

Douglas Alves

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Fique ligado!

De 14 a 18/11, o Memorial da América Latina, em São Paulo, será sede do 1º Salão Nacional do Jornalista Escritor. O evento, que tem o apoio da CBL, fará parte das comemorações do centenário da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), primeira entidade representativa dos jornalistas brasileiros, fundada em 7 de abril de 1908.

O objetivo é possibilitar a estudantes, pesquisadores, professores e sociedade em geral o acesso a obras escritas por profissionais do ramo jornalístico, cada vez mais presentes no universo dos best-sellers. Durante cinco dias, autores de todo o País e alguns convidados internacionais discutirão, por meio de debates, palestras, seminários e workshops, a interface das carreiras de jornalista e escritor.

Mais informações no site: http://www.jornalistaescritor.org/


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A quinta edição do programa Portfólio apresenta o trabalho fotográfico do paraense Alexandre Sequeira.

Os registros do fotógrafo estabelecem diálogo com o conto As Irmãs Passionistas, da escritora carioca Bruna Beber.

A curadoria é de Eder Chiodetto, para as fotos, e de Nelson de Oliveira, para o texto literário.

Portfólio Alexandre Sequeira
domingo 21 outubro a domingo 25 novembro

terça a sexta - 10h às 21h
sábado, domingo e feriado - 10h às 19h

itaú cultural - Avenida Paulista, 149 - são paulo - sp

Deixo pra amanhã o amanhã

Adio todas as portas por abrir
E as que encontro abertas
Adio a hora, o passo, o piscar do olho
Adio-me todo, em intervalos de adiamento
Só não adio o momento,
A boca na boca na hora do beijo
A palavra áspera na hora do desejo
O desejo de palavra no instante de silencio,
Adio a bifurcação do caminho,
O caminho, o atalho, a rua sem saída,
Adio a ida, a volta, o permanecer vão,
Adio o entendimento, o pressentimento,
Sou todo sala de espera,
A espera da hora do não,
Então me adio,
Adio a decisão, a indecisão,
O existir, o vão entre o que sou,
E o que a espera alheia fez de mim,
Adio sim, o sim e o não,
A Petição do dia, adio meu dia
Até que a noite se faça presente
Adio o meu melhor momento ausente,
Adio a semente, o botão que almeja virar rosa,
Adio a prosa, a sorte, o azar de saber-me eu,
Adio Deus num altar todo ornado de nada,
Adio a ata, a reunião, adio meu coração
E o batimento aflito,
Adio o conflito, o infinito,
E já não vejo na minha inauguração,
A data precisa para o tanger inexato de minha boiada.

Douglas Alves

“Do lado de fora tenho tudo que dentro de mim pede pra sair”

“E não há entendimento meu, que não faça do que sou uma lembrança póstuma de quem eu podia ser” (Douglas Alves)

A impossibilidade da dor

Por Heidi Strecker

Ritmo preciso e corte apurado marcam “Réquiem”, o primeiro romance da escritora e dramaturga Vera de Sá


Com um manejo espantosamente desenvolto da matéria ficcional, a narradora de “Réquiem” avança no discurso indireto livre e coloca uma zona de sombra bem à vista do leitor. O resultado é um romance tenso, de ritmo preciso e corte apurado.

Um personagem sem nome persegue a amante morta, mas é perseguido por ela e por tudo o que ela evoca: torpeza, degradação, vilania, desespero e um incrível vazio.

Curto (pouco mais de cem páginas), o romance não gira em torno da morte, mas em torno das fantasias doentes de um homem face à morte de sua amante. O leitor acompanha suas tentativas exasperadas de produzir alguma forma de dor, nenhuma adequada, nenhuma real, nenhuma vital. Acompanha de perto, também, seus raciocínios vorazes e estéreis, girando em falso.

Em termos de linguagem, “Réquiem” apresenta os fatos de forma segura, direta, sóbria e formal. O romance se desenvolve em dois tempos. Na primeira parte de “Réquiem”, o narrador vai da morte de Maria ao encontro com seu marido.

“Dor? Nenhuma. Esperava que chegasse. Desde que Maria morreu, isto é, desde o momento em que deveria ter começado a sentir dor, ele esperava que a dor chegasse. Extraía algum sofrimento com a esperava, mas a ansiedade não tomava o lugar da falta de dor. Às vezes, achava que pressentia a vinda, embora o máximo que conseguisse distinguir fosse uma certa sensação de sujeira.”

A partir daí, o narrador vai tentar reconstituir todos os passos de uma vida ao mesmo tempo com e sem Maria: a autópsia do corpo, a cremação, a busca nas fotografias, os sinais de sua ausência na casa, a lembrança do primeiro encontro (numa platéia talvez de um concerto), as muitas vezes em que Maria o deixou, um anel que ela levava no dedo, a lembrança de uma festa. E então uma perambulação aviltada pela cidade leva o narrador à casa do marido de Maria.

Nesse ponto o leitor é impelido a presenciar cenas estranhas, como num filme do diretor alemão F. W. Murnau. Uma atmosfera de irrealidade invade a narrativa.

A segunda parte do romance tem um andamento mais distendido que a primeira e recobre as variações em torno de um certo manuscrito, um misterioso poeta já morto e um anel com um engaste, que simboliza o mensageiro da morte. “Seu manuscrito estava aberto na mesma página há tanto tempo que a área exposta já apresentava sinais de enrugamento devido à umidade. Não era manuseado desde a morte de Maria. O texto permanecia interrompido e as linhas já escritas começavam a perder o sentido, um tipo de esmaecer, como se o vazio original fosse se reconstituir. Ao lado de seu manuscrito, fechados, estavam os cadernos de Derive, onde, em algum lugar, sabia estar grafado ‘Nehebkau’.” Em que pesem essas extravagâncias (o anel, o personagem Derive, o manuscrito, o inferninho onde ele e Maria se conheceram), o pulso é seguro.

Apesar desses elementos dissuasivos e de um registro rítmico diferenciado, na segunda parte de “Réquiem” não há perda de qualidade. A trama continua coesa e amarrada. O todo constitui uma malha tensa, um corpo sisudo e escuro. "Réquiem" é um romance muito bom.

O livro:

“Réquiem”, de Vera de Sá. Ed. Record, 125 págs. R$ 32.

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Heidi Strecker

É crítica literária, autora de "Análise de Texto" (ed. Atual) e "Cinema: Emoções em Movimento" (ed. Melhoramentos).

Fonte: http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2914,1.shl

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Palavras e Sem tidos!

A palavra não diz o que sinto,
Tenta, tropeça, levanta, mas não traduz,
O vento não sopra o ar que respiro,
Nem me guia a luz que me conduz,

A palavra se veste de sentido,
Sentido que falta em sua oralidade,
E eu sem entender me dispo,
Daquilo que é minha personalidade,

A palavra que melhor me chega é sorriso
Sorriso de alguém que escondido traz,
E me tira as palavras na hora que mais preciso,
Me faz feliz como nenhum dicionário faz,

A palavra amor já não diz tanto,
Tão pouco basta o meu querer,
Acho que meu coração está falando esperanto
Na esperança torpe de dialogar com você,

A palavra é bala no velho oeste do meu ser,
Viajando a leste da minha razão,
Esperando matar o sentido que quer ser,
Xerife e bandido nas cercanias do meu coração.

Douglas Alves

Poesia e cinema

Texto sobre a loucura

Edward Bond

Nós não podemos falar nada sobre nós e a nossa época, sem começarmos por definir a loucura.
Como é que se explica que nós sejamos seres dotados de razão, enquanto a nossa sociedade é tão ligada à loucura?
Como as pessoas que tem toda a sua razão podem agir como se estivessem loucas e acreditar nas idéias loucas que a sociedade lhe impõe?
Nós podemos encontrar uma resposta com aqueles que perderam a razão.
O que é que os deixou loucos?
As pessoas ficam assim quando não chegam a criar uma relação funcional e prática com a sociedade e com a realidade.
O que eles fazem?
Eles criam uma sociedade que é uma realidade para eles.
Eles ficam loucos para não perder a sua razão.
A sua loucura é a explicação que eles dão para a loucura que eles encontram no mundo.

Obs.: Para quem ousa se ser o que é...

E você, o que só você vê?

Barcos e espelhos

É de longe que fito o que quero
Sem nunca me aproximar do objeto de desejo
E desejo distante o que almejo
Vendo refletido em mim o que não vejo

Não sou o meu próprio espelho,
Nem sou vela para o vento que em mim sopra,
Sou eu almirante e barco onde me navego,
Esperando a assinatura vã dessa triste obra,

É ausente que acho meu enleio,
Abstraindo do que possuo o que já não tenho,
É em mim que apago a borracha o que não leio,

Como cria que tira o sustento do próprio seio,
Eu me acho naquilo em que me empenho,
E no fim da lida, sou apenas ilha com saudade do barco que nunca veio.

Douglas Alves

Poesia

Lou Andreas-Salomé

Ouse, ouse... ouse tudo!! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda ... a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!

Fonte: http://www.tvcultura.com.br/provocacoes/poesia.asp?poesiaid=470




Grandes são os desertos

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Lista de presentes para um aniversário que não vai chegar...

Manhãs azuis
Tardes douradas
E noites inspiradoras
O doce do chiclete, e não o amargo da boca
Capacidade de ouvir as coisas crendo piamente sem me importar o quão fantasiosas possam parecer
Dias tristes pra quebrar a rotina, quando dia triste não for rotina
Livros que me levem para um além de mim
Musicas que me façam levitar
Filmes que me façam chorar de alegria
Um corte de cabelo com o qual sempre sonho
Minha coleção de playmobil de volta
Minha vontade de brincar com playmobil de volta
Me conhecer melhor, só pra voltar a me perder no meu emaranhado de “eus”
Dormir pensando em ser feliz, sonhar com sorvete de chocolate, e acordar com gosto de recreio no céu da boca
Palavras engraçadas em poesias bobas e despretensiosas
E ter eternamente essa minha vocação pra palhaço sem picadeiro
Um sedativo para o meu pessimismo, e um energético pra minha euforia
Caixas de primeiros socorros no caminho que trilho
Que o gosto do danoninho não estranhe meu paladar
E que ainda exista motivos pra se pensar em revolução
Capacidade de voltar a crer nas pessoas
Ser metade do homem que foi meu pai
E apesar de não crer em céu, acreditar que minha mãe tem seu cantinho garantido
Ter uma relação harmoniosa com as pessoas que vi crescer, minha irmã e meu irmão
Ter a chance de voltar no passado só pra cometer os mesmos erros
Ter um filho, e poder dizer pra ele que ser honesto vale a pena
Ter sempre no seu afeto um cantinho pro meu aconchego
Uma banda de fanfarra pra me acordar todos os dias
E um coral de anjos pra me por pra dormir
Uma colombina pra alegrar o bobo sem corte que sou,
Minha capacidade de amar intacta,

“...Um espelho mais feliz...”



Douglas Alves

A COMÉDIA DA VIDA

por Sérgio de Agostino

- Que bela comédia! - disse madame Juliana, apoiando-se no braço do marido. Sorridente, ele assentia com ligeiro inclinar da cabeça àquela observação da esposa, enquanto desciam as escadas de acesso à rua.
O burburinho dos espectadores parecia aprovar a satisfação do casal. Muito loquazes, todos traziam um sorriso de incontida alegria, próprio de quem desfrutara ao máximo o espetáculo.
Na rua, uma garoa típica das frias noites de junho dispersou, rapidamente, o público que, há pouco, lotara a sala. Alguns minutos após a saída, o teatro mergulhara em profundo silêncio, como se nada houvera acontecido, como se o público lá não estivera, enchendo-o com o alarido dos comentários e aplausos. Agora, só o eco de tardos passos do zelador se faziam ouvir subindo a escadaria que ligava o saguão de entrada à platéia escassamente iluminada por diminutos focos de luz colocados, espaçadamente, nas paredes laterais. Ao fechar a sala e correr a cortina, ouviu, assustado, vozes no palco. Colhido de surpresa, as pernas bambearam-lhe e, não podendo suster o corpo, espichou-se redondamente numa poltrona. Não podia crer no que via: a cortina do palco aberta, as luzes da ribalta acesas, e vozes, muitas vozes falando ao mesmo tempo, como se os atores ainda lá estivessem representando os seus papéis. Aturdido, procurava ver os donos das vozes, mas nada divisava, a não ser alguns objetos se movimentarem em cena tocados por invisíveis mãos. Um suor gelado umedeceu-lhe as têmporas. O coração parecia querer saltar-lhe do peito. Uma sensação de impotência travou-lhe os movimentos, deixando-o hirto, como se o houvessem colocado numa camisa de força. Pouco a pouco, foi vencendo o estupor e, atento à fala das personagens, ouviu:
"- Ah! O público...Reage como se as estocadas não fossem dirigidas a ele. Vocês viram como madame Juliana sorriu de forma velada quando dissemos que o adultério é o que liga três pessoas sem uma saber. Pobre marido, que se desfez em riso, sem perceber que era o alvo de tão certeira seta."
"- Sim, é verdade - atalhou uma voz masculina. - O palco é o grande espelho, o confessionário público onde, às escondidas, um alto-falante espalha, sem pudor, aquilo que se pretende esconder."
E ouve-se ainda:
"- E o jovem de mãos dadas àquela senhora de idade bem avançada, coberta de finas jóias? Vocês perceberam com que dissimulação ele a acariciava?"
"- Não tão dissimulado - disse outra voz - que não pudesse ocultar de todo a aversão sentida por aquele pergaminho humano."
"- O interesse - fala tudo que é língua, meus caros, e representa tudo que é personagem, mesmo a do desinteressado - disse uma voz pausada e monótona que, ao julgar pela inflexão, devia ser de pessoa mais experiente, mais vivida."
"- É verdade - acrescentou outra voz não menos versada na arte de viver - quando eu era jovem acreditava que só o dinheiro podia comprar tudo. Agora que sou velho: tenho certeza."
Uma gargalhada vinda da platéia denunciou a presença de quem não fora convidado para ouvir os comentários feitos à margem do texto. Assustadas, as personagens abandonaram a cena. A cortina rapidamente se fechou. As luzes apagaram-se. Era o fim de mais um ato da ridícula comédia humana.
Já refeito do susto, o zelador, que a tudo estivera atento, viu, sobre uma poltrona, a um canto, um cartão orlado de delicados arabescos, onde uma letra nervosa escrevera: "Obrigada pela inesquecível noite. Quando repetiremos a aventura? Nada tema: meu marido sairá em viagem de negócio dentro de uma semana."
Sobre a cortina do palco, bordada em alto relevo, enlaçada à máscara da tragédia, a comédia trazia, na boca escancarada, a gargalhada provocada pela comédia da vida.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

SAUDADES NO ARMÁRIO

Saudade palavra que alguém;
Fez-me sentir ao partir.
Consome e traz amor pela eternidade.
Eu sinto, eu respiro, eu saio, eu grito;
E lá ela permanece.
Por que eu luto?
Os lugares mudam;
Ela é a mesma.
Quem traz saudade;
Não é por maldade.
Você se foi e não vai voltar;
Você se foi e me fez chorar.
Eu nem me despedi;
E quando vi já estava sem ti.
Estou aqui e sempre rezo por ti;
Pra te mostrar que não te esqueci!

Aline lira
alineleelira@gmail.com

Esse não é você, disse Paulo!


Tomaram-me pelo o que eu não era,
Na embriagues do copo eu refletido,
Em noites cinzentas, entre bons amigos,
Procurando a realidade de um ser sem dia a dia,

Tomaram-me por outro que distante de mim
Parecia ser mais real do que meu próprio toque,
A dor indivisível de um corte a gilete na carne frouxa,
A voracidade mórbida de um soco no saco de areia,

Vestiram-me com outras roupas,
Que não me cabiam com perfeita simetria,
Tenho saudade da bola de capotão,
E do meu singularíssimo entendimento da palavra alegria,

Desenharam-me com outros traços,
Pouca tinta e nem uma luz,
Mal sabem eles que esse desenho eu mesmo faço,
Com a incerteza do lápis que me conduz,

Traço a traço fizeram o que devera eu ser,
Sem hesitantes traços, sem cores, senão as que tenho,
E nessa luta infinda entre o que sou, e o que seu lápis fez de mim,
Restou um homem mal desenhado que traz nas veias o tom do próprio carmim...

Douglas Alves



quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Ressaca

A vida é um gole,
Dado as pressas,
Engolido a seco,
E há quem diga que embriaga de uma só vez,
Num instante tão único que chega a se confundir com o primeiro gozo.

A vida é um gole,

Amargo,
Quando falta doçura nos olhos da alma,
Engolido com expressão facial,
Num instante tão imorredouro que nem o pensamento alcança,

A vida é um gole,

Inodoro pra quem esta só de passagem,
Engolido sem tempo de espera na esfera do memorável,
Num instante que não merece fotografia, nem mesmo a da lembrança,

A vida é um gole,

Advindo de uma necessidade única e exclusivamente biológica,
Com sabor de contentamento,
Num momento tão preciso, que o olho humano não se habilita a ver,

A vida é um gole,
Agradável sabor que vem pra matar uma sede infinda,
Engolido com gosto de jardim no deserto do não se conter,
E há quem diga que é capaz de beber todo um ribeirão,
Num instante que traz a meu paladar um sabor de soverte de flocos,
Nos tempos idos de minha infância,
Quando eu bebia, e a idade não vinha me dizer,
Que o segredo de beber essa vida,
É envesgar os olhos e virar o copo que nem criança...

Douglas Alves

Crônica - Sentidos

O Gelson explicou que tinha sido inundado pelos sentidos. Foi a palavra que usou: inundado. Entrara na cozinha e a Desilaine, a nova cozinheira, estava fazendo um lagarto na panela com muito alho, como sua mãe fazia, e o aroma era o da sua infância. Pegou um aipim frito que esfriava em cima da geladeira e começou a mastigá-lo, e olfato e paladar, para decidir qual dos dois era mais feliz naquele instante mágico, só numa melhor de três. Ao mesmo tempo a cozinha enfumaçada, com um faixo de luz natural fazendo brilhar as maçãs artificiais da mesa, enchia os olhos de Gelson como uma composição da escola flamenga do século XVII. E como se não bastasse isto, no rádio tocava uma música do Caetano. O único sentido que não acompanhava o êxtase dos outros quatro era o tato, e Gelson olhou em volta, atrás de algo para ocupá-lo. Uma das nádegas da Desilaine cabia, miraculosamente, na palma da sua mão, e a sensação da carne rija através do brim, explicou Gelson, completava maravilhosamente aquela tomada sincronizada das portas da percepção humana. Quando dona Zuleica entrara na cozinha, não flagrara uma prosaica mão na bunda da empregada. Interrompera um tableau de plenitude, um momento de sinergia entre memória e experiência que raramente se abre ao Homem, explicou Gelson. Mas dona Zuleica não quis nem saber, despachou a Desilaine e até hoje não fala com o marido, que não pára de lamentar a falta de sensibilidade poética no mundo moderno.

Luís Fernando Veríssimo

Desencontrários

Paulo Leminski

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.


Fonte:
http://paginas.terra.com.br/arte/PopBox/kamiquase/dist_ven.htm

Texticullini 1

Essa é a história de uma guerra. Observe bem, companheiro. Aqui não há tempo pra coisas desnecessárias. Não estamos lidando com excesso. O ar aqui é de falta e falta.

Tenho dinheiro na mão. Todo mundo quer isso e faz muita coisa por isso, né, dinheiro. Eu tenho. Basta achar quem queira fazer o que eu quero que façam. Não é difícil.

Eu aqui tenho o meu corpo. Vendo por preço qualquer. Mas prefiro que seja por sonho. Gosto de me iludir. É legal acreditar que se é feliz de vez em quando.

Em tempos de guerra não se permitem excessos, já avisei, companheiros.

Pulo fora de um relacionamento toda vez que vejo que o negócio tá ficando mais sério. Onde já se viu me entregar? Em troca de quê? De crença?


Por sete meses mantive relações com aquela porta. Sua madeira não era boa e a fechadura nunca me deixava ver o que tinha dentro, mas não posso dizer que foi ruim.
O abraço dele era tão macio quanto seria o abraço de um mandacaru.


por Lívia Lima

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Poema

Apoi abri teus oi, tua boca
e assei a minha.
Cuma tava crua
Te apussui e
eu e tu se assando todo.

Assassino.

Assassinarei teus olhos,
desmantelarei teu olhar
para deixar tuas mãos e teu olhar no vazio.
Guerrearei contra todos os portos,
serei ilha, num pacto com outro sol,.
Desintalarei tuas informações , e arrancarei as cores
que impusestes a mim.

Rasgarei.

Sp.02.95

Olhar de um Paulistano

Inspirado na Poesia Sétimo olhar paulistano da poeta Aline Lira
_

Terra, aqui já não vejo,
Cimento cinza, brilho de azulejo,
Um jardim de pedras a se regar,

A vista estreita, já não inaugura paisagem,
A poluição só inventa miragem,
E a sarjeta é travesseiro pra sonhar,

Silencio aqui, só se escuta,
Dia e noite, é sempre labuta,
Pra ver crescer essa cidade sem par,

Paz aqui é concreto e publicidade,
Retrato fiel da nossa abandonada cidade,
Onde a esperança pensa em se suicidar,

Quem aqui se atirou em busca de um lugar ao sol,
Molhou-se na garoa, urinou no lençol,

Assustado agora quer pra casa voltar,

Douglas Alves

Eu tomo pinga, eu não sei o que é melhor pra mim?

A suavidade poética que impregna os acordes pegajosos das canções da banda mineira Pato Fu deixa bem claro que temos sim, uma banda Pop de altíssima qualidade.

Para aqueles ainda não habituados a ouvir um Cd sem se despir das diversas influencias mercadológicas que insistem em vincular hit’s grudentos e, estereotipar os artistas como se fossem esses produtos ao alcance das mãos nas prateleiras da vida, ao ouvir o som do Pato Fu, provavelmente terão a impressão de estar diante de mais uma banda adolescente.

Esse ledo engano, faz com que Fernanda Takai, John e compania sejam tratados como compositores menores, empoeirando de forma prematura uma obra que deveria servir de molde para as diversas bandas que se arriscam nesse terreno perigoso e infértil qualitativamente falando chamado de cenário Pop.

A diversidade de timbres, os arranjos atemporais, a voz pluma de Takai, e a poesia explicita nas canções de John, somados a uma irreverência inteligentíssima, fazem do Pato Fu a melhor e banda Pop do Brasil.



Simplicidade

Vai diminuindo a cidade
Vai aumentando a simpatia
Quanto menor a casinha
Mais sincero o bom dia

Mais mole a cama em que durmo
Mais duro o chão que eu piso
Tem água limpa na pia
Tem dente a mais no sorriso

Busquei felicidade
Encontrei foi Maria
Ela, pinga e farinha
E eu sentindo alegria

Café tá quente no fogo
Barriga não tá vazia
Quanto mais simplicidade
Melhor o nascer do dia

Caça aos gênios do texto


A revista literária Granta revelou autores como Salman Rushdie, Ian McEwan e Hanif Kureishi. Saiba quais são as novas apostas do título britânico, que sai agora em português.

A cada dez anos, a conceituada revista inglesa Granta publica sua seleção de melhores autores jovens. Foram três edições na Grã-Bretanha, em 19 83, 1993 e 2003 — que destacaram gente como Salman Rushdie, Ian McEwan, Hanif Kureishi e Zadie Smith — e duas nos Estados Unidos, em 19 96 e 2006 — que revelaram, entre outros, Jonathan Franzen e Jeffrey Eugenides. A novidade é que, pela primeira vez, traduz-se esse compêndio entre nós. Assim, um ano após o volume mais recente ter saído em seu país de origem, os brasileiros podem conferir os jovens ficcionistas que, na opinião de Granta, devem fazer a diferença literária nos Estados Unidos.

Alguns desses autores são conhecidos. É o caso de Jonathan Safran Foer, autor de Tudo É Iluminado, e de Uzodinma Iweala, que escreveu o empolgante Feras de Lugar Nenhum. Na coletânea de Granta, Foer mantém a qualidade com Quarto Após Quarto, contraponto lírico entre uma paciente moribunda e seu médico, mas Iweala decepciona com Dança Cadaverosa, um registro banal de conflitos familiares.

Bem melhor é o conto Procriar, Gerar, de Anthony Doerr, que parte de um tema comum — a dificuldade de um casal para ter filhos — para compor, com habilidade narrativa notável e de criação de imagem, um afresco sobre as aspirações e decepções humanas. Ou Mãe e Filho, de Akhil Sharma, que traça um retrato vívido de uma família de imigrados indianos, cujos percalços são vistos pela perspectiva de um menino. Ou ainda O Rei Está Acima do Povo, do peruano Daniel Alarcón, sobre o destino incerto das novas gerações em um país que, como muitos da América Latina, equilibra-se entre a democracia recente e a pobreza crônica.

LEGIÃO ESTRANGEIRA
Como Alarcón e Sharma, muitos autores nasceram ou foram criados em outros países: Olga Grushin e Gary Shteyngart (Rússia), Yiyun Li (China) e Rattawut Lapcharoensap (Tailândia). Gera-se, assim, um traço interessante, pois diversas histórias só abordam tangencialmente (ou nem isso) temas americanos. A de Olga Grushin (Exílio), por exemplo, fala de um emigrado russo na Paris dos anos 20, enquanto a excelente Manobristas, de Lapcharoensap, situa-se na Bangcoc atual. Mesmo as narrativas que se passam nos Estados Unidos tratam muitas vezes de suas minorias, como o texto de Iweala, ou o curioso Pessach em Nova Orleans, de Dara Horn, sobre o papel dos judeus na Guerra Civil norte-americana.

Multiculturalismos à parte, pode-se dizer que se, cem anos atrás, os Estados Unidos precisavam deitar os olhos sobre o mundo (sobretudo a Europa) para produzir sua arte, agora é o mundo que pousa o olhar nos Estados Unidos. E o resultado artístico não deixa de ser, no geral, bastante promissor.

*por Marcelo Pen

Fonte:
http://bravonline.abril.uol.com.br/indices/livros/livrosmateria_253427.shtml?page=2

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Exposições

500 anos de arte russa é tema de exposição em SP


A mostra 500 anos de Arte Russa foi inaugurada dia 11 de junho, na Oca do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, com 350 obras no acervo do Museu Russo de São Petersburgo.
A exposição trouxe ao Brasil não só objetos cotidianos, mas valiosas peças de arte sacra produzidas a partir do século XV, além de obras de artistas fundamentais para o desenvolvimento da arte russa a partir do fim do século XIX. O público pôde conferir um panorama que foi além dos trabalhos mais conhecidos dos artistas da vanguarda, como Wassilly Kandinsky, Marc Chagall e Kasimir Malevitch. Além dos grandes nomes, também houve espaço para o trabalho de outros importantes autores, filiados à vanguarda, ao movimento simbolista e ao realismo-socialismo, como Vladimir Taltlin, Lief Bakst, Mikhail Larionov e Pavel Filonov.


Fonte: http://noticias.terra.com.br/especial/retrospectiva2002/interna/0,6512,OI71248-EI1064,00.html

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Escrito por Victor Az

Fonte: http://concretismo.zip.net/

A missão

Marçal Aquino
Da penumbra, oculto por um pilar, ele observou o homem atravessar o pátio. Um grandalhão com cara de sádico, armado com um cassetete. Poderia atacá-lo de surpresa, ele considerou, enquanto o homem se detinha e espiava ao redor, atento. Mas estava sem sua pistola e resolveu não correr riscos desnecessários. Preferiu esperar que o vigia terminasse a ronda.
Assim que se desfez no ar o som que o homem produziu, ao fechar atrás de si uma pesada porta de ferro, ele se moveu. Cruzou o pátio, aumentando a velocidade e a largura dos passos ao passar pela zona iluminada. De novo na penumbra, manteve-se imóvel por um tempo, recuperando o controle da respiração, o coração batendo acelerado. Ele conhecia bem o inimigo, sabia o que o aguardava se fosse apanhado. Mas isso não aconteceria. E o medo não iria impedi-lo de cumprir sua missão.
Um cachorro latiu em algum lugar ali perto. Ele aguçou os ouvidos, prendeu a respiração. E esperou. Nada aconteceu. O pátio continuou deserto e silencioso, azulado pela luz da lua.
A arma fazia falta, ele pensou. Com ela na mão, estaria mais confiante. Mas profissionais como ele eram preparados para lidar com situações adversas. Então deixou a penumbra e começou a galgar a calha, apoiando-se nas emendas. Cada movimento desprendia um ruído preocupante da estrutura de metal. Se a calha cedesse ao seu peso, ele olhou para baixo, seria uma queda e tanto. Foi nesse momento que escutou o barulho da chave na porta de ferro. E, com um arranque que fez ranger a calha inteira, alcançou a mureta e passou ao segundo piso.
Ali, permaneceu agachado, de olho no pátio. O som da calha ainda retinia em seu ouvido quando o grandalhão surgiu na área iluminada. Por um segundo, teve a impressão de que o homem olhou em sua direção e isso ó deixou tenso, com os músculos retesados. Mas o vigia parecia despreocupado: assobiava e batia o cassetete na palma da mão enquanto fazia o trajeto até o lado oposto do pátio.
Ele se levantou e passou a um corredor comprido, fracamente iluminado. Andava com cautela, pisando em silêncio, como um gato — fora treinado para isso. Até que, no final do corredor, uma porta trancada o deteve. Poderia arrombá-la com o ombro, mas na certa seria denunciado pelo barulho. Por isso, abaixou-se e forçou a maçaneta várias vezes, sem nenhum resultado prático. Então o som de passos às suas costas fez com que se erguesse como uma mola. Os dois homens se aproximavam devagar, obstruindo o corredor com seus corpos musculosos:
"Olha só o que temos aqui", disse um deles.
Aquele era o momento crítico de sua missão, e ele estava sem sua arma. Mas tivera muito trabalho para chegar até ali e não podia se render sem luta. Percebendo que ele se colocava em guarda, o homem à sua esquerda abriu os braços:
"Calma, ninguém precisa se machucar aqui".Foi esse homem que ele atingiu de raspão com um soco, enquanto o outro o agarrava e ambos rolavam pelo chão. Ele esperneou, chutou e até mordeu um dos homens, mas acabou subjugado numa gravata tão apertada que o fez perder os sentidos.
Quando acordou, ele se sentia atordoado, com a boca pastosa. No interrogatório, do qual lembrava apenas detalhes imprecisos, tinham usado drogas para fazê-lo falar. Mas ele estava. certo de que não revelara nada, fora treinado para resistir até ao soro da verdade.
A mulher que entrou no quarto nesse momento era jovem e bonita e sorriu para ele de um jeito amistoso.
"Está tudo bem com você?”
A voz soava macia, os gestos, calmos. O inimigo mudava de tática e agora tentava seduzi-lo. Ele se levantou da cama e cambaleou até a janela.
"Você vai acabar se machucando de verdade", a mulher disse.
E apontou a pilha de livros sobre o criado-mudo. Livros baratos, de papel ordinário.
“Seria melhor você parar de ler essas, porcarias, estão piorando a sua cabeça.”
Por entre as grades da janela, ele viu o pátio cercado por muros altos. E ficou em dúvida por um instante. Só um instante. Ela ainda falou que aquelas tentativas de fuga atrapalhavam o tratamento. Mas ele sabia que o inimigo tentava confundi-lo. Queriam que ele ficasse em dúvida sobre quem era e o que estava fazendo ali.

Lobão - QUEM SERÁ QUE PEIDA

Ó, quem será que peidar / que tire o cú da reta e não demore / com a mão amarela, se inocente / que sem prova concreta não dá pra pegar / e todos os trambiques irão te salvar / com todos os auxílios da presidência / e todo benefício da leniência / e todos os decretos que te aliviam / pois quem não tem vergonha quando chafurdar / nem sente desespero por coisa alguma / e que não tem decoro, pois nunca terá / porque que não tem castigo.

Ó quem peidar quem peidar / que apague a luz dos aeroportos / pra debaixo do tapete todos os mortos / e vem gente me pedindo : relaxa e goza / colhendo os impostos para a mesada / na eterna incompetência do governante / mostrando com orgulho a falcatrua / na dança do larápio que ganha a rua / enquanto que a gente a se perguntar / aonde é que a gente então vai parar / e se não tem remédio, por que implorar / a quem não dá ouvido

Ó quem peidar quem peidar / desfaça o flagrante dos mensaleiros / e faça um desagravo pros brasileiros / é só um feriado que a gente esquece / se benza duas vezes com a mão na massa / com cara de enlevo ninguém vai notar / triplique o dinheiro pra olimpiada / com a cara de tacho que te consagra / no próximo vexame ninguém vai notar / não há merecimento nem nunca haverá / por que ninguem exige nem exigirá / vossa cabeça a prêmio.


Ouça e baixe a música: http://www.myspace.com/lobaouniversoparalelo

Blog flagra Renan assediando os parlamentares

Retirado do Blog: http://marcelotas.blog.uol.com.br/arch2007-09-01_2007-09-15.html

Poesia - Renan Calheiros

Encalhaste em meu pensamento,
Tal tristeza aguda que não sai nem a pancada,
E me provoca feito coice de jumento,
Querendo que eu durma com o som da sua martelada,

Apague a luz quando sair da sala,
Apague o pavio enquanto é tempo,
Pois fala mais quem depressa se cala,
E cresce mais quem dosa bem o fermento,

Calhou de eu não ser poeta,
Também não sou cantador,
Nem é preciso ser profeta,

Pra saber como tudo terminou,
O Brasil é um país que segue a seta,
Que a direção dos ventos indicou.


Douglas Alves

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Novela - O protetor

Capítulo II


A praça estava repleta de gente e ali se encontravam também vários de seus amigos. De longe ele avistou Rodrigo, um velho amigo de infância.
_E aí brother, beleza?
_Beleza cara, quanto tempo que não te vejo Rodrigo. O que andas fazendo?
_Estou ralando muito, quase não tenho tempo de sair e... Ei? Você ta mim escutando? Ta procurando alguém?
_Ô meu amigo, mim desculpe. É porque estou procurando uma que vi lá dentro da igreja e...
_Vamos embora Rodrigo. Estou com uma dor de cabeça tremenda.
_Calma meu amor, só mais um minuto. Deixe te apresentar o meu amigo.
_Tudo bem, mas ande logo com isto que estou passando muito mal.
_Carlinhos esta é minha namorada Renata. Renata este é meu amigo Carlinhos.
_Muito prazer Carlinhos. – Disse Renata.
_O prazer é todo meu. – Respondeu Carlinhos.
_Pronto Rodrigo, agora vamos embora, antes que esta dor mim mate.
_Carlinhos, então tchau, até a próxima.
_Falou Rodrigo, espero ver logo.
Após as despedidas, Rodrigo e Renata foram se embora e o mundo de Carlinhos mais uma vez se desmoronou. Pois Renata era a garota que ele estava procurando.Como se não bastasse ter se apaixonado pela namorada de seu melhor amigo, quando chegou em casa sua mãe foi logo soltando os cachorros em cima dele:
_Isto é hora de você chegar em casa seu imprestável? Onde você estava?
_Mãe, falando a verdade, eu estava na praça. Fui pra lá após a missa e acabei...
_Com ordem de quem você foi pra praça?
_De ninguém mamãe. É porque eu...
_Meu filho, você um dia ainda vai me matar de preocupação...
_E a senhora um dia ainda vai me matar de raiva. Larga de me encher o saco, eu não sou mais criança, nem num domingo a senhora mim deixa em paz...
_Vai pro seu quarto. Vai ficar de castigo pra você parar de me responder. E num tem mais não. Cale a boca antes que eu te quebre a boca.
E no meio de um pranto de lágrimas ele respondeu:
_Tudo bem mãe, eu vou pro meu quarto, mas, preste atenção numa coisa, um dia a senhora vai se arrepender de tudo isto que a senhora me faz. A senhora, só quer saber de rezar e rezar e vive com uma amargura gigantesca no peito. O que adianta isto? O que adiante rezar ir à missa, confessar e fingir que faz as boas obras aos olhos do povo?
E dando-lhe uma bofetada, sua mãe insistiu que ele fosse para o quarto. Carlinhos muito triste, rancoroso foi-se para o quarto. Pôs-se a pensar e a chorar ao mesmo tempo:
= Deus, ô meu Deeeeeeus. Porque está acontecendo isto comigo? O que te fiz de errado? Sou tão pecador assim? Olha Deus minha família me odeia, hoje já tive uma discussão com minha mãe. Já não tenho mais vontade de viver. Pois além de discutir com minha mãe, meu Vasco perdeu o título para o Flamengo e ainda de quebra me apaixonei pela namorada de meu melhor amigo. Já não suporto mais tanta aflição no meu coração. Quando é que as coisas vão começar a dar certo pra mim? Mim responde Deus. Não fique aí calado. Cadê você poderoso Deus. Mostre o teu poder se é que realmente você tem.E neste momento um poderoso estrondo pode ser ouvido e um feixe de luz se abriu em direção a Carlinhos.


*Continua...


O Protetor: escrita por Dener Rafael

Fonte: http://www.meganesia.com/novelas/protetor1/index2.htm

Sétimo olhar paulistano

Terra que eu necessito
Um ar que não respiro
Lugar que me fez
Um prédio novo a cada mês
Belas paisagens
Pouco verde
O silêncio não mora mais
Rezamos por dias de paz
Quem vem não volta
Quem volta não fica
Limpeza se suplica
Riqueza capitalista
Para muitos um porto seguro
E para outros um poço sem fundo.


Aline Lira - ganhou um prêmio em 1º lugar no Mackenzie.

email para contato: alineleelira@gmail.com

Notícias - Paulo Coelho assume cadeira na ABL



No dia 25 de julho, o escritor Paulo Coelho foi eleito para ocupar a cadeira de número 21 na Academia Brasileira de Letras, que pertencia ao economista Roberto Campos, morto em outubro de 2001. Com 22 votos, o escritor derrotou o sociólogo Hélio Jaguaribe, que recebeu 15, e passou a ser o mais jovem integrante da Academia. A eleição do autor de Diário de um Mago gerou polêmica, já que muitos imortais eram contra sua entrada na academia por ele ser um escritor popular. Acusado por muitos de ser um profissional mediano, Coelho é respeitado no exterior pela vendagem expressiva de seus livros, que foram traduzidos para 56 línguas e são comercializados em 150 países. Uma mulher chegou a tirar a roupa em protesto pela vitória de Paulo Coelho.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/especial/retrospectiva2002/arteeliteratura

Consumo ou sem sumo eu sumo

Compro uma vida
que sirva de analgésico
entorpecido não sou feliz
quero um sonho epilético

Vendo,
Sonhos a prazo
Há prazo pra sonhar
A meninice abre pra leilão
O que a velhice vem arrebatar,

Alugo,
Um prazer que trago na algibeira
E há quem queira
O niilismo consumista
Antropofágico,
De se auto-consumar,

Doou,
Doa a quem doer,
Doou tudo que não meu,
Pra ficar sem um eu em mim,
Pra ficar assim
Livre da obrigação de ser


Douglas Alves

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Crônica - Provocações

Luis Fernando Veríssimo

A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão.
A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso. Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.
Foram lhe provocando por toda a vida.
Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça.
Mas aí lhe tiraram a roça. Na cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.
Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava. Estavam lhe provocando.
Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça. Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.
Terra era o que não faltava.
Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.
Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.
Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.
Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:
- Violência, não!

Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/indice.asp?a=117

"...Voltei Recife, foi a saudade que me trouxe pelo braço..."

Hoje, acordei com uma vontade imorredoura de me perder na minha abandonada vida passada.
Despertei com vontade de pó, de cheiro de mofo, com um sentimento louco, saudosista e anarquista ao mesmo tempo.
E esse velho revolucionário, que resolveu passar o dia comigo vem colocando idéias malucas em minha cabeça, tentando fazer-me lembrar que havia um sorriso sonhoso que ornava minha desfigurada face, nos dias em que não me cabem mais.
Havia em algum lugar, do meu íntimo desconhecido, um pouco mais de alegria, alegria que esta, comportada e opiniosa, havia uma felicidade que não vinha da realização de um grande sonho, que não se preocupava com nada senão com o lúdico momento do agora.
Esse Senhor que tenta me desdizer em meu caminho, nas roupas que uso, nos livros que leio, nas pessoas com quem negocio afeto, esse Senhor pretensioso e ousado, veio entortar o ponto de exclamação que estabeleci como irrefutável no tanger de minhas artérias cheias de certezas.
E ao tilintar dos pratos, ante a fome infinda de futuro, venho eu me edificar no instante passado, esperando que a reinvenção de um “ontem que não existe mais me faça feliz”.
É assim que propõe o Senhor Guevarista, que eu, Douglas Alves Coimbra um eterno transfigurado de um presente inexistente, me molde a uma necessidade inaugurada por ele, onde a minha reconfiguração é a única saída para meu futuro, eu eterno mutante de espírito me faça um novo homem cheio de amarras com um passado incompleto e imperfeito.
Mas, como posso eu buscar no passado a completude obliqua para um ser em constante mutação?
Como ver saída para algo que é porta de entrada?
E esse dilema prosseguirá pelo resto do dia, enquanto o Velho e o Menino não decidem quem vai ser o primeiro a jogar os dados do destino!
"...Ô saudade companheira, de quem não tem compânia..."

Douglas Alves

Poemas

S/T -3-

Entre minhas mãos o vazio, como cristal de peso;
o afago derradeiro na última taça;
Por sobre o meu rosto, o teu rosto, e confundo-me
e fecho-me meu coração em espiral, em S.-SP 29.12.82-


ST-21

Nunca aprendi a amar
ouvi:
amor
amaço
amado
amante
amasiado
pelo amor de ...
amo?
não sei,
não, não sei amar.
amaram-me ?
não sei.
não aprendi a amar. SP 01.10.83


ST 111

Talvez não seja o fim,
mas o princípio do mistério,
meu encontro, Rec 1982.

Poesia para os ouvidos


Texto: Douglas Alves Coimbra


O Samba Novo

Mais conhecida por ter participado do Programa Fama exibido na Rede Globo de televisão, Roberta Sá lança seu segundo álbum, “Que belo e estranho dia pra se ter alegria”, deixando bem claro que veio pra fincar os pés nesse pântano de cantoras que insistem em gravar os já renomados nomes de nossa canção.
Pesquisadora e estudiosa da história musical de nosso país, a cantora não se prende ao imediatismo e a facilidade que faz com que muitas cantoras da nossa musica acabem gravando canções de Chico ou Tom pra lá de conhecidas.
Seu primeiro álbum “Braseiro” lançado em 2005, nos coloca diante de nomes como, Rodrigo Maranhão, Marcelo Camello, Pedro Luis e Lula Queiroga, aliás, é justamente da canção de Lula Queiroga parceiro de composição de Lenine, que nasceu o nome para o novo CD.
“Que belo e estranho dia pra se ter alegria”, nome retirado de uma das estrofes da canção “Belo e estranho dia de amanhã”.
As canções que compõe o Cd dialogam entre si, estabelecendo assim uma tênue linha harmônica que faz com que melodia, arranjo e poesia se unam com simplicidade.
O CD trás a nata da nova poesia musical brasileira, nomes como Lula Queiroga, Junio Barreto, Mario Veloso, Pedro Luís e Edu Krieger, em uma aquarela rica e diversificada pincelada num só tom.






Belo e Estranho Dia de Amanhã
Roberta Sá
Composição: Lula Queiroga


Notícias perderão todo o controle dos fatos
Celebridades cairão no anonimato
Palavras deformadas, fotos desfocadas vão atravessar o atlântico
Jornais sairão em branco
E as telas planas de plasma vão se dissolver
O argumento ficou sem assunto

Vai ter mais tempo prá gente ficar junto
Vai ter mais tempo prá enlouquecer com você

Vai ter mais tempo pra gente ficar junto
Vai ter mais tempo pra enlouquecer

Os políticos amanhecerão sem voz
O out door com as letras trocadas
Dentro do banco central o pessoal vai esquecer como é que assina a própria assinatura
E os taxistas já não sabem que rua pegar
Que belo estranho dia pra se ter alegria
E eu respondo e pergunto

É só o tempo prá gente ficar junto
É só o tempo de eu enlouquecer por você

É só o tempo prá gente ficar junto
É só o tempo de eu enlouquecer

Alarmes já pararam de apitar
O telefone celular descarregou
O aeroporto tá sem teto e a moça da tv prevê silêncios e nuvens
A firma que eu trabalho faliu
E o governo decretou feriado amanhã no brasil
Será que é pedir muito?

É só um jeito da gente ficar junto
É só um jeito de enlouquecer com você

É só um jeito da gente ficar junto
É só um jeito de enlouquecer

Contos - Janice e o umbligo

de Verônica Stigger

Janice vivia enamorada de seu umbigo. Não fazia muito tempo que havia dispensado dois gêmeos fortes, másculos e apaixonados para poder ficar sozinha consigo mesma e apreciar – sem uma alma para lhe roubar a paciência e o bom humor – aquele buraquinho perfeitamente bem delineado de sua barriga.
Numa outra sexta-feira, ao tentar ajeitar suas costas arqueadas, tocou sem querer os lábios em sua barriga. Muitíssimo feliz com a nova possibilidade, repetiu infinitamente o mesmo gesto. Impulsionava o tronco para frente e beijava seu umbigo. Beijava e beijava e ria satisfeita. Dos beijos, passou às lambidas. Gastava horas lavando seu umbigo com cuspe.
Numa terceira sexta-feira, de súbito, prendeu sua língua num buraco aberto pela acidez de sua saliva. Mesmo assustada, Janice amou a novidade. Com o transcorrer dos dias, das semanas, dos anos, o buraco tornou-se gradativamente maior: penetrava nele não só a língua, mas também a boca e o nariz.
Numa derradeira sexta-feira, Janice trancou as orelhas no seu umbigo. Ao invés de tentar tirá-las, introduziu-as ainda mais, arrombando de vez seu buraquinho. De repente, zupt!, foi-se a cabeça de Janice para dentro de sua barriga. Extasiada, forçou ainda mais a passagem. Os ombros entraram com uma certa dificuldade. Depois deles, o buraco se distendeu, facilitando o ingresso do resto de seu corpo. Os braços, o peito, as pernas, os pés submergiram em Janice como água escorrendo pelo ralo. O último a sumir foi o piercing.
Hoje, Janice vive feliz, inteira dentro de seu umbigo.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

"...A justiça é cega e a verdade é uma massinha de modelar..."

“...Se viver é ver, prendo minha respiração...”
(Trecho do filme Dançando no Escuro” – Lars Von Trier)


Um musical dos anos trinta... Isso, essa é a vida que eu queria pra mim, queria viver um musical dos anos trinta, pra quando eu estiver a cair, possa sempre haver alguém pra me segurar! Um musical dos anos trinta, onde não acontece nada se não o divino, o essencialmente bom, chega de realidade...
Infelizmente não é essa realidade com a qual nos brinda o mestre Lars Von Trier em seu musical de realidade cruel.
Dançando no escuro é uma espécie de viagem aos confins do ser humano, um lugar tão intimo e desabitado de sentimentos de cunho coletivo e altruísta, que chega a nos causar uma certa estranheza e repugnação da raça da qual fazemos parte.
O ser humano é um ser na eterna procura por um espelho mais feliz e, essa procura nos venda os olhos para tudo que não umbigo.
De olhos vendados a tudo que é externo a nossa vontade, perdemos a noção do coletivo, todos cegos a ver navios num oceano de vaidades.
A parte esse mundo de seres narcisistas existe Selmma.
Personagem vivenciado pela cantora Bjork que mesmo com a perda progressiva da visão nos guia por um caminho feito de verdades.
Não esperem de Selmma, atos heróicos, bravatas, nem nada do tipo, a personagem é apenas reflexo de uma inocência perdida entre a aspereza do mundo de consumo e a indiferença aguda de seres que se julgam humanos.
Se viver é ver, prendo minha respiração, e então o que virá? Não sei, tão pouco importa, o importante é que seu eu estiver a cair, não me preocuparei, pois bem sei que os braços de alguém me conduziram ao céu que é meu lugar de direito...
Esse é mote do musical, a maneira lúdica com a qual Selmma encara suas dificuldades, com a certeza perene de que existe uma mão de “Deus” para lhe colocar novamente em seu caminho.Não sei o que me prende tanto a esses musicais e suas histórias já sabida de antemão, sinceramente não sei... Talvez eu sinta um pouco a falta da sensação de que tudo é mágico, tudo é possível, o encontro musical entre palavra e movimento, a híbrida magia de estarmos num mundo de fantasia... Talvez tudo me faça esquecer do que são feitos os seres humanos, e eu que sou tão ser e humano quanto qualquer um chego a acreditar que sou diferente, que meus valores são puros e verdadeiros... TOLICE! Sou eu tão egoísta quanto o restante da raça da qual faço parte, sou eu uma tentativa frustrada do que poderia ter sido, se não escolhesse trilhar os caminhos que trilhei... Mas, mesmo com tudo isso posto, não me preocupo, afinal sei que se eu me desequilibrar quando estiver na corda bamba da vida, alguém mesmo sem saber vai me segurar... Essas últimas palavras seriam perfeitas para terminar esse texto idiota, seriam se não tivesse eu outra intenção, não quero terminar isso com um chavão de ouro, quero terminar isso sem terminar, quero deixar isso inacabado como tenho deixado muita coisa na vida... E...

“... Eles acham que nos conhecem, mais se conhecessem mesmo saberiam que esse não é o fim, ao menos que nós queiramos...”
(Trecho do filme Dançando no Escuro” – Lars Von Trier)

Pensar, pensar…

Pensar em que, em quem, em mim ou em você? Ou a palavra mais correta seria refletir, mais refletir sobre o quê?
Boa pergunta, me responda você, pense um pouco, reflita, mas sobre o quê? Sei-lá escolha você.
Não importa o que você pense ou reflita, o que importa mesmo é parar pra pensar, reavaliar as coisas que realmente fazem sentido na sua vida, os outros, ah deixa eles para lá, pense em você pelo menos nesse momento.
Desculpe se estas palavras lhe parece egoístas, mas, já é hora de você parar pra pensar, afinal de contas somos ou não seres racionais? Embora, muitas vezes, não nos comportamos como tal.
Então te faço um convite, venha pensar comigo, garanto a você que não mata, não engorda e não faz mal!
Quantas vezes na sua vida você se olhou no espelho e se achou um vencedor?
Quantas vezes você se arrependeu de não dizer eu te amo (independentemente pra quem quer que seja) e quando percebeu já era tarde de mais?
Quantas vezes você tirou um dia só pra você, e falou “Hoje o dia é MEU”?
Pois é, agora eu estou te chamando à realidade, e tentando roubar pelo menos 5 minutos do seu precioso tempo para ler estas palavras mal escritas e com pouca concordância.
Talvez você leia e ache um tanto quanto demagogo, ou talvez você realmente pense sobre o assunto, a decisão é sua.
Pense!

Sandra Menezes

Novela - O protetor

Capítulo I


Tudo começa em uma pequena cidade do interior de São Paulo. Nesta pequena cidade, reside Carlinhos, um jovem com ideais ousados e vive em uma ânsia muito grande em ser feliz. De família humilde e muito religiosa, Carlinhos vai crescendo com idéias já formada da vida.
_Carlinhos, levanta, vamos para a Igreja.
_Mãe, de novo? Todo Domingo é a mesma coisa, a gente tem que levantar cedo pra ir pra Igreja, me deixa dormir mais um pouquinho, aí à noite eu vou.
_Não Carlinhos, levanta, levanta, vai é agora mesmo...
_Mas mãe, por favor, eu for agora, não vou prestar atenção no que o padre irá dizer, eu vou é dormir a missa inteira.
_Está bom Carlinhos, tudo bem, pode ficar, mas ai de você, se você não for à missa à noite.
E assim se fez. Dona Raimunda permitiu que Carlinhos fosse à missa à noite, mas com a promessa de que iria apanhar se não fosse.
_Não agüento mais essa vida. Todo Domingo tenho que levantar cedo pra ir à missa e o pior que minha mãe nem pergunta se eu quero ir. Ou vai ou apanha. Já tenho 18 anos e minha mãe me trata como se eu tivesse 12. Desse jeito nunca vou conseguir arrumar uma namorada. Agora meu Vasco está jogando com o Flamengo, final do Campeonato e eu vou ter que deixar de ouvir o jogo pra ir à missa, porque se não vou apanhar, onde já se viu um cara de 18 anos apanhar, isto é porque vivemos numa democracia.
E assim se fez. Carlinhos desligou o rádio e foi para missa. Sua concentração estava mais na decisão do campeonato do que na missa.
_Será que o Vasco ta ganhando? Ô missa que não acaba logo. Esse padre fala de mais. Vamos padre, acaba com esta missa logo, quero ir embora.
De repente no meio do seu stress, Carlinhos avista uma moça muito bonita e logo se apaixona. Aí é que não prestou mais atenção em nada, até o jogo finaliza. Seus ouvidos simplesmente ficaram tapados.
_Meu Deus, o que é isto? Que garota linda! Venho à missa todos os domingos e nunca a vi por aqui. Quem será ela?
Em um momento de fraqueza nem consegue se controlar mais, não tira os olhos da garota. De repente seus ouvidos abrem e ele escuta o padre finalizar a missa.
_Graças a Deus que esse tédio acabou. Agora tenho que achar aquela garota e descobrir quem é ela ou até mesmo onde ela mora. Não posso deixá-la sair sem que a siga. Ela é muito linda.
Quando Carlinhos deu o primeiro passo, um coroinha lhe puxou pela camisa e disse:
_Carlinhos o padre quer falar com você.
_A não. Hoje não. Hoje não estou pra conversa, diga a ele que na quarta-feira eu vou até a casa paroquial e agente conversa. Tenho um assunto pra resolver ali e não posso esperar.
_Ta bom, eu digo a ele.
E no mesmo instante, Carlinhos, saiu em direção a praça tentando encontrar a linda moça.

*Continua...


O Protetor: Escrita por Dener Rafael

Fonte:
http://www.meganesia.com/novelas/protetor1/