quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Agenda

Dia 28/11 às 24:00
Mombojo no Studio SP

R$ 15,00



Poesia

Cinema

Música

Dois guardanapos de bar

Um dia veio uma menina e “desinventou” a palavra agora, como se já não houvesse momento presente no que vivo. Meu instante único que deveria começar na palavra agora se finda antes do começo da palavra que sempre se atrasa.
Moça chata, de riso fácil e encantador, comeu todas as certezas que guardei para amanhã, sem certezas e com a cabeça “descontruída”, você me vem, e quando acredito não poder mais gostar de você, de outra forma mais rasgada e despreocupada, você “descomeça” o apreço que a tenho, reinventando outras formas de se sentir um querer totalmente involuntário.
Não sei se a cerveja permite que eu seja claro em minhas explanações, mas não ouso frear esse instinto breve, que busca no condimento único da lembrança do beijo da mulher sonhada, o único alimento pra minha fome infinda.
Você vem sempre, besta como só você sabe o ser, “desinaugurando” alegrias, só pra deixar tudo com a sua cara.
“Resignificando” coisas, inventando outras, criando um mix de alegria e sonho nos sertões do meu entender. Vem sempre como quem não quer nada, pra por virgula onde antes havia exclamação.
Vem sempre sem noção de espaço, me arranca um pedaço, e coloca no lugar uma vontade de não.
Tira de tudo o sentido que dei, me destrona, me faz “desrei” do castelo que construí com areia.
Coloca concreto na palavra saudade, tira o deserto da palavra miragem e faz do real uma utopia além sonho.
Muda a alegria do lugar onde ponho, “desamanhece” meus dias, invade meu sonho, dá fogos de artifício ao meu momento de paz.
Inventa palavra, onde antes só havia silencio, me faz feliz como dicionário nenhum faz.

Douglas Alves

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Fique ligado!

De 14 a 18/11, o Memorial da América Latina, em São Paulo, será sede do 1º Salão Nacional do Jornalista Escritor. O evento, que tem o apoio da CBL, fará parte das comemorações do centenário da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), primeira entidade representativa dos jornalistas brasileiros, fundada em 7 de abril de 1908.

O objetivo é possibilitar a estudantes, pesquisadores, professores e sociedade em geral o acesso a obras escritas por profissionais do ramo jornalístico, cada vez mais presentes no universo dos best-sellers. Durante cinco dias, autores de todo o País e alguns convidados internacionais discutirão, por meio de debates, palestras, seminários e workshops, a interface das carreiras de jornalista e escritor.

Mais informações no site: http://www.jornalistaescritor.org/


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A quinta edição do programa Portfólio apresenta o trabalho fotográfico do paraense Alexandre Sequeira.

Os registros do fotógrafo estabelecem diálogo com o conto As Irmãs Passionistas, da escritora carioca Bruna Beber.

A curadoria é de Eder Chiodetto, para as fotos, e de Nelson de Oliveira, para o texto literário.

Portfólio Alexandre Sequeira
domingo 21 outubro a domingo 25 novembro

terça a sexta - 10h às 21h
sábado, domingo e feriado - 10h às 19h

itaú cultural - Avenida Paulista, 149 - são paulo - sp

Deixo pra amanhã o amanhã

Adio todas as portas por abrir
E as que encontro abertas
Adio a hora, o passo, o piscar do olho
Adio-me todo, em intervalos de adiamento
Só não adio o momento,
A boca na boca na hora do beijo
A palavra áspera na hora do desejo
O desejo de palavra no instante de silencio,
Adio a bifurcação do caminho,
O caminho, o atalho, a rua sem saída,
Adio a ida, a volta, o permanecer vão,
Adio o entendimento, o pressentimento,
Sou todo sala de espera,
A espera da hora do não,
Então me adio,
Adio a decisão, a indecisão,
O existir, o vão entre o que sou,
E o que a espera alheia fez de mim,
Adio sim, o sim e o não,
A Petição do dia, adio meu dia
Até que a noite se faça presente
Adio o meu melhor momento ausente,
Adio a semente, o botão que almeja virar rosa,
Adio a prosa, a sorte, o azar de saber-me eu,
Adio Deus num altar todo ornado de nada,
Adio a ata, a reunião, adio meu coração
E o batimento aflito,
Adio o conflito, o infinito,
E já não vejo na minha inauguração,
A data precisa para o tanger inexato de minha boiada.

Douglas Alves

“Do lado de fora tenho tudo que dentro de mim pede pra sair”

“E não há entendimento meu, que não faça do que sou uma lembrança póstuma de quem eu podia ser” (Douglas Alves)

A impossibilidade da dor

Por Heidi Strecker

Ritmo preciso e corte apurado marcam “Réquiem”, o primeiro romance da escritora e dramaturga Vera de Sá


Com um manejo espantosamente desenvolto da matéria ficcional, a narradora de “Réquiem” avança no discurso indireto livre e coloca uma zona de sombra bem à vista do leitor. O resultado é um romance tenso, de ritmo preciso e corte apurado.

Um personagem sem nome persegue a amante morta, mas é perseguido por ela e por tudo o que ela evoca: torpeza, degradação, vilania, desespero e um incrível vazio.

Curto (pouco mais de cem páginas), o romance não gira em torno da morte, mas em torno das fantasias doentes de um homem face à morte de sua amante. O leitor acompanha suas tentativas exasperadas de produzir alguma forma de dor, nenhuma adequada, nenhuma real, nenhuma vital. Acompanha de perto, também, seus raciocínios vorazes e estéreis, girando em falso.

Em termos de linguagem, “Réquiem” apresenta os fatos de forma segura, direta, sóbria e formal. O romance se desenvolve em dois tempos. Na primeira parte de “Réquiem”, o narrador vai da morte de Maria ao encontro com seu marido.

“Dor? Nenhuma. Esperava que chegasse. Desde que Maria morreu, isto é, desde o momento em que deveria ter começado a sentir dor, ele esperava que a dor chegasse. Extraía algum sofrimento com a esperava, mas a ansiedade não tomava o lugar da falta de dor. Às vezes, achava que pressentia a vinda, embora o máximo que conseguisse distinguir fosse uma certa sensação de sujeira.”

A partir daí, o narrador vai tentar reconstituir todos os passos de uma vida ao mesmo tempo com e sem Maria: a autópsia do corpo, a cremação, a busca nas fotografias, os sinais de sua ausência na casa, a lembrança do primeiro encontro (numa platéia talvez de um concerto), as muitas vezes em que Maria o deixou, um anel que ela levava no dedo, a lembrança de uma festa. E então uma perambulação aviltada pela cidade leva o narrador à casa do marido de Maria.

Nesse ponto o leitor é impelido a presenciar cenas estranhas, como num filme do diretor alemão F. W. Murnau. Uma atmosfera de irrealidade invade a narrativa.

A segunda parte do romance tem um andamento mais distendido que a primeira e recobre as variações em torno de um certo manuscrito, um misterioso poeta já morto e um anel com um engaste, que simboliza o mensageiro da morte. “Seu manuscrito estava aberto na mesma página há tanto tempo que a área exposta já apresentava sinais de enrugamento devido à umidade. Não era manuseado desde a morte de Maria. O texto permanecia interrompido e as linhas já escritas começavam a perder o sentido, um tipo de esmaecer, como se o vazio original fosse se reconstituir. Ao lado de seu manuscrito, fechados, estavam os cadernos de Derive, onde, em algum lugar, sabia estar grafado ‘Nehebkau’.” Em que pesem essas extravagâncias (o anel, o personagem Derive, o manuscrito, o inferninho onde ele e Maria se conheceram), o pulso é seguro.

Apesar desses elementos dissuasivos e de um registro rítmico diferenciado, na segunda parte de “Réquiem” não há perda de qualidade. A trama continua coesa e amarrada. O todo constitui uma malha tensa, um corpo sisudo e escuro. "Réquiem" é um romance muito bom.

O livro:

“Réquiem”, de Vera de Sá. Ed. Record, 125 págs. R$ 32.

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Heidi Strecker

É crítica literária, autora de "Análise de Texto" (ed. Atual) e "Cinema: Emoções em Movimento" (ed. Melhoramentos).

Fonte: http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2914,1.shl

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Palavras e Sem tidos!

A palavra não diz o que sinto,
Tenta, tropeça, levanta, mas não traduz,
O vento não sopra o ar que respiro,
Nem me guia a luz que me conduz,

A palavra se veste de sentido,
Sentido que falta em sua oralidade,
E eu sem entender me dispo,
Daquilo que é minha personalidade,

A palavra que melhor me chega é sorriso
Sorriso de alguém que escondido traz,
E me tira as palavras na hora que mais preciso,
Me faz feliz como nenhum dicionário faz,

A palavra amor já não diz tanto,
Tão pouco basta o meu querer,
Acho que meu coração está falando esperanto
Na esperança torpe de dialogar com você,

A palavra é bala no velho oeste do meu ser,
Viajando a leste da minha razão,
Esperando matar o sentido que quer ser,
Xerife e bandido nas cercanias do meu coração.

Douglas Alves

Poesia e cinema

Texto sobre a loucura

Edward Bond

Nós não podemos falar nada sobre nós e a nossa época, sem começarmos por definir a loucura.
Como é que se explica que nós sejamos seres dotados de razão, enquanto a nossa sociedade é tão ligada à loucura?
Como as pessoas que tem toda a sua razão podem agir como se estivessem loucas e acreditar nas idéias loucas que a sociedade lhe impõe?
Nós podemos encontrar uma resposta com aqueles que perderam a razão.
O que é que os deixou loucos?
As pessoas ficam assim quando não chegam a criar uma relação funcional e prática com a sociedade e com a realidade.
O que eles fazem?
Eles criam uma sociedade que é uma realidade para eles.
Eles ficam loucos para não perder a sua razão.
A sua loucura é a explicação que eles dão para a loucura que eles encontram no mundo.

Obs.: Para quem ousa se ser o que é...

E você, o que só você vê?

Barcos e espelhos

É de longe que fito o que quero
Sem nunca me aproximar do objeto de desejo
E desejo distante o que almejo
Vendo refletido em mim o que não vejo

Não sou o meu próprio espelho,
Nem sou vela para o vento que em mim sopra,
Sou eu almirante e barco onde me navego,
Esperando a assinatura vã dessa triste obra,

É ausente que acho meu enleio,
Abstraindo do que possuo o que já não tenho,
É em mim que apago a borracha o que não leio,

Como cria que tira o sustento do próprio seio,
Eu me acho naquilo em que me empenho,
E no fim da lida, sou apenas ilha com saudade do barco que nunca veio.

Douglas Alves

Poesia

Lou Andreas-Salomé

Ouse, ouse... ouse tudo!! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda ... a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!

Fonte: http://www.tvcultura.com.br/provocacoes/poesia.asp?poesiaid=470




Grandes são os desertos