sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Deixo pra amanhã o amanhã

Adio todas as portas por abrir
E as que encontro abertas
Adio a hora, o passo, o piscar do olho
Adio-me todo, em intervalos de adiamento
Só não adio o momento,
A boca na boca na hora do beijo
A palavra áspera na hora do desejo
O desejo de palavra no instante de silencio,
Adio a bifurcação do caminho,
O caminho, o atalho, a rua sem saída,
Adio a ida, a volta, o permanecer vão,
Adio o entendimento, o pressentimento,
Sou todo sala de espera,
A espera da hora do não,
Então me adio,
Adio a decisão, a indecisão,
O existir, o vão entre o que sou,
E o que a espera alheia fez de mim,
Adio sim, o sim e o não,
A Petição do dia, adio meu dia
Até que a noite se faça presente
Adio o meu melhor momento ausente,
Adio a semente, o botão que almeja virar rosa,
Adio a prosa, a sorte, o azar de saber-me eu,
Adio Deus num altar todo ornado de nada,
Adio a ata, a reunião, adio meu coração
E o batimento aflito,
Adio o conflito, o infinito,
E já não vejo na minha inauguração,
A data precisa para o tanger inexato de minha boiada.

Douglas Alves

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