quarta-feira, 5 de setembro de 2007

"...A justiça é cega e a verdade é uma massinha de modelar..."

“...Se viver é ver, prendo minha respiração...”
(Trecho do filme Dançando no Escuro” – Lars Von Trier)


Um musical dos anos trinta... Isso, essa é a vida que eu queria pra mim, queria viver um musical dos anos trinta, pra quando eu estiver a cair, possa sempre haver alguém pra me segurar! Um musical dos anos trinta, onde não acontece nada se não o divino, o essencialmente bom, chega de realidade...
Infelizmente não é essa realidade com a qual nos brinda o mestre Lars Von Trier em seu musical de realidade cruel.
Dançando no escuro é uma espécie de viagem aos confins do ser humano, um lugar tão intimo e desabitado de sentimentos de cunho coletivo e altruísta, que chega a nos causar uma certa estranheza e repugnação da raça da qual fazemos parte.
O ser humano é um ser na eterna procura por um espelho mais feliz e, essa procura nos venda os olhos para tudo que não umbigo.
De olhos vendados a tudo que é externo a nossa vontade, perdemos a noção do coletivo, todos cegos a ver navios num oceano de vaidades.
A parte esse mundo de seres narcisistas existe Selmma.
Personagem vivenciado pela cantora Bjork que mesmo com a perda progressiva da visão nos guia por um caminho feito de verdades.
Não esperem de Selmma, atos heróicos, bravatas, nem nada do tipo, a personagem é apenas reflexo de uma inocência perdida entre a aspereza do mundo de consumo e a indiferença aguda de seres que se julgam humanos.
Se viver é ver, prendo minha respiração, e então o que virá? Não sei, tão pouco importa, o importante é que seu eu estiver a cair, não me preocuparei, pois bem sei que os braços de alguém me conduziram ao céu que é meu lugar de direito...
Esse é mote do musical, a maneira lúdica com a qual Selmma encara suas dificuldades, com a certeza perene de que existe uma mão de “Deus” para lhe colocar novamente em seu caminho.Não sei o que me prende tanto a esses musicais e suas histórias já sabida de antemão, sinceramente não sei... Talvez eu sinta um pouco a falta da sensação de que tudo é mágico, tudo é possível, o encontro musical entre palavra e movimento, a híbrida magia de estarmos num mundo de fantasia... Talvez tudo me faça esquecer do que são feitos os seres humanos, e eu que sou tão ser e humano quanto qualquer um chego a acreditar que sou diferente, que meus valores são puros e verdadeiros... TOLICE! Sou eu tão egoísta quanto o restante da raça da qual faço parte, sou eu uma tentativa frustrada do que poderia ter sido, se não escolhesse trilhar os caminhos que trilhei... Mas, mesmo com tudo isso posto, não me preocupo, afinal sei que se eu me desequilibrar quando estiver na corda bamba da vida, alguém mesmo sem saber vai me segurar... Essas últimas palavras seriam perfeitas para terminar esse texto idiota, seriam se não tivesse eu outra intenção, não quero terminar isso com um chavão de ouro, quero terminar isso sem terminar, quero deixar isso inacabado como tenho deixado muita coisa na vida... E...

“... Eles acham que nos conhecem, mais se conhecessem mesmo saberiam que esse não é o fim, ao menos que nós queiramos...”
(Trecho do filme Dançando no Escuro” – Lars Von Trier)

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