quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Caça aos gênios do texto


A revista literária Granta revelou autores como Salman Rushdie, Ian McEwan e Hanif Kureishi. Saiba quais são as novas apostas do título britânico, que sai agora em português.

A cada dez anos, a conceituada revista inglesa Granta publica sua seleção de melhores autores jovens. Foram três edições na Grã-Bretanha, em 19 83, 1993 e 2003 — que destacaram gente como Salman Rushdie, Ian McEwan, Hanif Kureishi e Zadie Smith — e duas nos Estados Unidos, em 19 96 e 2006 — que revelaram, entre outros, Jonathan Franzen e Jeffrey Eugenides. A novidade é que, pela primeira vez, traduz-se esse compêndio entre nós. Assim, um ano após o volume mais recente ter saído em seu país de origem, os brasileiros podem conferir os jovens ficcionistas que, na opinião de Granta, devem fazer a diferença literária nos Estados Unidos.

Alguns desses autores são conhecidos. É o caso de Jonathan Safran Foer, autor de Tudo É Iluminado, e de Uzodinma Iweala, que escreveu o empolgante Feras de Lugar Nenhum. Na coletânea de Granta, Foer mantém a qualidade com Quarto Após Quarto, contraponto lírico entre uma paciente moribunda e seu médico, mas Iweala decepciona com Dança Cadaverosa, um registro banal de conflitos familiares.

Bem melhor é o conto Procriar, Gerar, de Anthony Doerr, que parte de um tema comum — a dificuldade de um casal para ter filhos — para compor, com habilidade narrativa notável e de criação de imagem, um afresco sobre as aspirações e decepções humanas. Ou Mãe e Filho, de Akhil Sharma, que traça um retrato vívido de uma família de imigrados indianos, cujos percalços são vistos pela perspectiva de um menino. Ou ainda O Rei Está Acima do Povo, do peruano Daniel Alarcón, sobre o destino incerto das novas gerações em um país que, como muitos da América Latina, equilibra-se entre a democracia recente e a pobreza crônica.

LEGIÃO ESTRANGEIRA
Como Alarcón e Sharma, muitos autores nasceram ou foram criados em outros países: Olga Grushin e Gary Shteyngart (Rússia), Yiyun Li (China) e Rattawut Lapcharoensap (Tailândia). Gera-se, assim, um traço interessante, pois diversas histórias só abordam tangencialmente (ou nem isso) temas americanos. A de Olga Grushin (Exílio), por exemplo, fala de um emigrado russo na Paris dos anos 20, enquanto a excelente Manobristas, de Lapcharoensap, situa-se na Bangcoc atual. Mesmo as narrativas que se passam nos Estados Unidos tratam muitas vezes de suas minorias, como o texto de Iweala, ou o curioso Pessach em Nova Orleans, de Dara Horn, sobre o papel dos judeus na Guerra Civil norte-americana.

Multiculturalismos à parte, pode-se dizer que se, cem anos atrás, os Estados Unidos precisavam deitar os olhos sobre o mundo (sobretudo a Europa) para produzir sua arte, agora é o mundo que pousa o olhar nos Estados Unidos. E o resultado artístico não deixa de ser, no geral, bastante promissor.

*por Marcelo Pen

Fonte:
http://bravonline.abril.uol.com.br/indices/livros/livrosmateria_253427.shtml?page=2

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