sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Aquela que está

Bate com força alguém na porta das petições.
E cada pancada aflita mostra a certeza perene de que tem sim alguém lá...
Quem bate estando do lado de fora não podia estar tomado por tal certeza, mas a insistência reta de cada pancada parece evidenciar exatamente o contrário.
Minutos passam e o barulho antes estranho ao ouvido recente e desacostumado parece soar familiar, foi-se com o costume mais uma vez a raiva que devia nos invadir e fazer-se senhora de nossos atos.
Horas após o começo das infindas e descompassadas pancadas o barulho cessa, e o que devia passar desapercebido, parece mais estranho ao meu ouvido do que a série de batidas na madeira maciça.
Meu olhar “interpelador” se perdeu na reconstrução de uma moça que ali estava a bater, e nesse mergulho nas cores que ornavam minha vista ao suave som tirado de fagotes e bandolins vi o que pretendia lá.
A moça que lá está, se fez presente e real tal qual a margarina que passo no pão matinalmente.
Ela não adentrou porta nenhuma que não a da minha percepção.
Essa ela derrubou a pancada.
Invadiu e agora e está.
Aquela que está, existe com real estranheza a bater nas portas. Bate pra acordar, pedir passagem, pedir vigília.
Não bate para que se abram as portas, mas sim para que as mesmas não se fechem mais.

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